quinta-feira, 17 de setembro de 2009




Exercício Emagrece?
Cuidados com as variáveis comportamentais.

Recentemente a revista “Isto é” estampou na capa uma matéria interessante: “quando o exercício não emagrece”, que faz sua análise baseada em uma pesquisa conduzida por Thimoty S. Church e colaboradores e publicada na revista científica PlosOne. Por um lado, para quem ler, mostra os perigos do comportamento dos indivíduos nos momentos em que não estão fazendo exercício. Por outro lado.....,para quem não ler, a matéria pode trazer muito conflito. Um exemplo desses aconteceu comigo, em que uma aluna veio me questionar sobre tal fato e, simplesmente me disse que malhar não adianta nada. Este é o retrato que muitos profissionais da saúde se deparam, principalmente profissionais de educação física e nutricionistas.
Eu pude ler a matéria, pela qual, cheguei ao artigo original. Agora vamos discutir um pouco os achados da pesquisa.
A pesquisa analisou 411 mulheres na pós menopausa, com média de idade de 57,3 anos, IMC de 31,7 kg/m² e 63% eram caucasianas. Todas participavam de um estudo denominado “The Dose-Response to Exercise in Postmenopausal Women (DREW)”, este estudo avalia as respostas de uma atividade física a 50%, 100% e 150% da recomendação para atividade física em mulheres sedentárias, com excesso de peso ou obesas. As 411 mulheres foram divididas em 4 grupos, sendo um controle, gasto energético de 4 Kcal/kg/Semana, 8 Kcal/kg/Semana e a 12 Kcal/kg/Semana. Estes valores de gasto energético foram calculados baseados na recomendação da atividade física publicada no Medicine Sports Science Exercise em 2004, em que Morss GM e colaboradores definiram o desenho do estudo do DREW. Para melhor compreensão, abaixo segue figura explicativa do gasto energético de acordo com o percentual da recomendação de saúde pública.


O objetivo deste estudo foi observar a diferença na perda de peso corporal e o efeito compensatório entre os diferentes gastos energéticos do exercício. O efeito compensatório foi analisado comparando a perda de peso conseguida e a predita. Foi exatamente esta analise que chamou atenção da reportagem da revista. O resultado mostrou que os 3 grupos reduziram o peso corporal, porém quando foi comparado a redução predita com a redução alcançada o grupo de 12 Kcal não obteve os resultados que deveriam alcançar, o que mostrou que exercícios com gasto calórico maior não foram eficientes. Tanto o grupo 4 e 8 Kcal alcançaram 136% e 112% do predito, enquanto o grupo 12 Kcal alcançou somente 53,3% do predito. A explicação para que o grupo com gasto de 12Kcal não foi possível alcançar a redução prevista, foi que essas pessoas acabam aumentando a ingestão calórica dos alimentos, uma vez que pensam que como fazem muita atividade física isto lhes dariam uma possibilidade de comer mais, o que na realidade não é o correto. Todos sabemos que para uma perda de peso corporal existe a necessidade de um balanço calórico negativo. Se não há mais gasto do que ingestão não haverá redução de peso. A participação da atividade física para redução da gordura corporal requer uma duração de 90 minutos por dia em 5 dias da semana, o que muitas vezes não ocorre. Outro fato que chamou atenção neste artigo, foi uma explicação do porque não ocorreu perda no grupo com maior gasto energético durante as sessões de atividade física. Indivíduos que praticam mais atividades físicas ficam mais cansados e acabam ficando mais parados no restante do dia.
Outro fator que já foi mostrado em outros estudos é a questão do substrato energético utilizado de acordo com a intensidade e duração da atividade física. VAN LOON et al (1999) – Journal Applied Physiology - já haviam demonstrado que quanto mais intenso a atividade, maior é a participação da via glicolítica. Sendo assim, podemos pensar que para perder gordura corporal a atividade deve ser moderada, o que corresponde a 60% da via dos ácidos graxos livres. Algumas pessoas podem questionar o efeito EPOC, sigla em inglês que significa: Excesso de Consumo de Oxigênio Pós-Exercício, que é mais pronunciado em atividades com intensidades mais altas. É verdade, porém este efeito dura no máximo 2 horas e alguns estudos apontam um valor de 18% de vantagem para atividades moderadas, o que no final das contas representa um gasto energético quase insignificante.
O maior objetivo do estudo DREW foi exatamente verificar a resposta compensatória nos diferentes níveis de atividades (4,8 e 12 Kcal). Os autores concluem que é preciso mais estudos para entender melhor o porquê ocorre este efeito compensatório e desenvolver estratégias para minimizar este efeito.
Portanto, quando for prescrever exercícios para redução da gordura corporal, busque analisar o comportamento dos indivíduos durante o dia inteiro, para que você possa alcançar os melhores resultados.

Ref.
CHURCH TS e cols. Changes in weight, waist circumference and compensatory responses with different doses of exercise among sedentary, overweight postmenopausal women. PlosOne. 2009; 4(2):e4515.

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