terça-feira, 29 de junho de 2010

Existe Associação Entre Força Muscular e o Uso de Medicamentos entre Idosos?


Por Prof. Mauricio dos Santos
CELAFISCS – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul

A força muscular é uma variável extremamente importante para atletas, jovens, mulheres e principalmente para as pessoas mais idosas. A redução da força muscular com o passar da idade favorece o surgimento de morbidades, quedas, maiores taxas de fraturas, hospitalização e mortalidade. Por exemplo, Newman e colaboradores (2006) avaliaram a força do quadríceps, preensão manual e a composição corporal de 2.292 indivíduos. Após análise dos dados encontraram que a força muscular e não a massa muscular correlacionou fortemente com a taxa de mortalidade.
Não obstante, com o aumento da idade observamos também o aumento do consumo de medicamentos entre os idosos. Uma pesquisa recente em nosso laboratório mostrou entre os idosos que caminhavam mais de 8.500 passos consumiam menos medicamentos do que aquelas que caminhavam menos de 6 mil passos. Aliás, 100% das mulheres que caminhavam menos de seis mil passos utilizavam algum tipo de medicamento.
Porém, poucos estudos têm observado a relação entre força muscular e consumo de medicamento. Um artigo publicado no periódico Age and Ageing deste ano, conduzido por Ashfield TA e colaboradores avaliaram 1.572 homens e 1.415 mulheres com idade entre 59 a 73, participantes do Hertfordshire Cohort Study. Mensuraram a força destes indivíduos e a utilização de medicamentos cardiovasculares. Alguns medicamentos como Furosemida foi associado com a redução de 3,15 kg para homens e 2,35 kg para mulheres. Os Nitratos também se correlacionaram com menor força, tanto em homens como nas mulheres. Os bloqueadores de cálcio e fibratos foram associados apenas entre as mulheres. O único medicamento que não se associou com a força muscular foi a Estatina. Embora o fenômeno foi observado, estes dados devem ser analisados com cautela, pois a casualidade não deve ser estabelecida, já que trata-se de um estudo transversal. Além disso, não buscou evidenciar qual variável é mais influenciada, ou melhor, não foi estabelecido se menor força leva a um maior consumo de medicamentos ou se a causa da redução da força foi devido ao medicamento.
Contudo, o uso de alguns medicamentos cardiovasculares foi associado com a redução da força muscular entre indivíduos idosos. Parece, mais uma vez, que a capacidade força muscular é uma importante variável para o estado de saúde das pessoas, principalmente entre os mais idosos.

Referência
Ashfield TA; syddall HE; martin HJ; Dennison EM; Cooper C; Sayer AAI. Grip strength and cardiovascular drug use in older people: findings from the Hertfordshire Cohort Study. Age and Ageing 2010; 39: 185–191. doi: 10.1093/ageing/afp203

sábado, 26 de junho de 2010

Capacidade Funcional em Idosos Dinapênicos e Obesos.


Por Prof. Mauricio dos Santos
CELAFISCS – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul

A população mundial esta envelhecendo e isto não é surpresa para mais ninguém. O problema é que com este envelhecimento as incapacidades funcionais vão surgindo e esta situação aumenta os gastos com a saúde pública. Não obstante, um prejuízo da capacidade funcional aumenta o número de internações, piora a qualidade de vida, deixa o idoso mais dependente e aumenta o risco de quedas. Para se ter uma idéia deste problema, segundo o Centro de Estatística de Saúde dos Estados Unidos pelo menos 15% da vida de um idoso será destinada a alguma incapacidade funcional.
Com relação às características morfológicas, também está claro o aumento da adiposidade corporal e redução da força muscular com o avanço da idade. Estas duas características envolvidas no processo de envelhecimento interferem de forma incisiva na capacidade funcional e foi exatamente isto que dois pesquisadores (Danielle R. Bouchard e Ian Janssen)
da Universidade de Queen, na cidade de Kingston, no Canadá observaram em 2.039 indivíduos, com idade igual ou superior a 55 anos participantes do U.S. National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). Os idosos (homens e mulheres) foram divididos pelo quartil de gordura corporal total e força muscular. Desta forma, foram estabelecidos quatro grupos, sendo eles: não dinapênico e não obeso, só obeso, apenas dinapênico e dinapênico/obeso.
Para mensurar a gordura corporal e a força muscular foi utilizado do DEXA e a extensão de joelho no dinamômetro isocinético, respectivamente. Já para a capacidade funcional foi realizado o teste de velocidade de andar (objetivo) e a utilização de cinco questionários sobre as funções físicas que eles conseguiam realizar (subjetivo).
Vale lembrar que o termo “Dinapenia” foi proposto por Clark BC e Manini TM em 2008 para se referir à perda da força muscular com o avanço da idade.
O problema principal em questão era se a dinapenia ou a obesidade exerciam o mesmo efeito sozinhas na capacidade funcional desses idosos ou a associação dessas condições pioravam a capacidade funcional.
Os resultados apontaram que na velocidade de andar 36,1% dos dinapênicos/obesos, 24,1% dos dinapênicos, 18% dos obesos e 12,2% dos não dinapênicos e não obesos apresentaram dificuldade em realizar o teste. A diferença média entre os não dinapênicos e não obesos para os dinapênicos/ obesos, no teste de velocidade de andar, foi de 0.14m/seg., o que representou 14,9% em termos percentuais. Entretanto, se esta velocidade fosse para percorrer uma distância de 20 metros, isto representaria um aumento de quase 3 segundos, o que tem importante influência nas atividades da vida diária como, por exemplo, atravessar uma rua.
Com as respostas dos questionários foi obtido um score de 0 a 15, em que 0 é o pior e 15 o melhor. Os resultados indicaram para o mesmo sentido, isto é, os dinapênicos/obesos foram os que obtiveram os piores scores.
Desta forma os autores concluem que a obesidade e a dinapenia prejudicam a capacidade funcional em idosos, porém, quando estas duas condições estão associadas o prejuízo é ainda maior.

Referência.
Bouchard DR. and Janssen I. Dynapenic-Obesity and Physical Function in Older Adults. Journal Gerontol. A Biol. Sci. Med. Sci. 2010;65A(1):71–77.