segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Características do ambiente e caminhada.


Por Prof. Mauricio dos Santos

Residir em áreas próximas a parques e áreas verdes tem sido associado com um estilo de vida ativo do que onde estas características não existem. Nos Estados Unidos o New Urbanism Smart Scorecard (modelo de arquitetura urbana) foi criado para dar sustentabilidade às comunidades, reduzir a expansão indiscriminada, reduzir a destruição de áreas verdes e também para permitir que a caminhada faça parte da rotina dos moradores.
De acordo com alguns critérios estipulados pelos criadores deste design, as pessoas tendem a caminhar mais dependendo de alguns itens, por exemplo, densidade de moradias, uso misto da área, disposição das ruas e tamanho dos quarteirões.
As características do local são classificadas em excelente, preferido, aceitável, mínimo ou não se aplica para várias comparações, entre elas o uso da caminhada na vinhança.
Utilizando este modelo de ambiente construído, Rob Bôer e colaboradores investigaram o padrão de caminhada em dez áreas metropolitanas dos Estados Unidos de acordo com a arquitetura ambiente. As cidades investigadas foram: Boston, Chicago, Dallas, Detroit, Houston, Los Angeles, New York, Philadelphia, San Francisco e Washington.
Além das quatro características do New Urbanism Smart Scorecard citada acima, foram incluídas mais duas que não faziam parte deste modelo, sendo a média de idade da vizinhança e a disponibilidade de estacionamentos nas ruas.
As informações foram obtidas da Pesquisa Nacional de Transporte Pessoal de 1995, que incluiu 42.033 residências dos Estados Unidos. As 10 áreas metropolitanas foram elegíveis de acordo com o Censo de 2000.
Os resultados indicaram que a caminhada associava-se com quarteirões que mantinham entre 600 a 804 passos, com Odds Ratio de 1,26 (IC 1.04-1.52), porém este resultado não esta de acordo com o New Urbanism Smart Scorecard pois, este modelo sinaliza que a caminhada é mais utilizada na vizinhança em quarteirões com menos de 600 passos. Com relação ao número de comércio na vizinhança, os autores identificaram que 4 tipos diferentes de comércio quando comparado a 3 tipos estimularia a caminhada OR 1,24 (IC 1.11-1.39), mais do que este número não houve associado com aumento da caminhada. Intersecção entre quatro vias também indicou maior vantagem para caminhada. Em áreas com menor percentual das intersecções, entre 25% a 49% da área o OR aumentou a utilização da caminhada em 36% quando comparado ao menor percentual, o que correspondia a 0 a 24% a área com intersecções. O maior valor encontrado para esta característica foi na comparação entre 25% a 49% e 50% a 74%. Esta comparação resultou em OR de 1,38 (IC1.09-1.75) a favor da faixa de maior percentual.
Os autores concluíram que maior diversidade de área comercial e maior percentual de intersecção foi associada a mais caminhada. Além disso, alguns critérios, mas não todos, do New Urbanism Smart Scorecard podem associar-se a maior utilização da caminhada.


Referências
New Urbanism Smart Scorecard. www.cnu.org/cnu_reports/Scorecard_exp.pdf.

Boer R; Zheng Z; Overton A; Ridgeway GK; Cohen DA. Neighborhood design and walking trips in ten U.S. metropolitan areas. Am.J.Prev.Med. 2007;32(4):298-304.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Como o meio de transporte pode ajudar a combater o excesso de peso e a obesidade.


Por Prof. Mauricio dos Santos

Esta foi a inquietação do pesquisador Martin Lindstrom do Departamento de Ciências Clínicas da Universidade de Lund, na Suécia e publicada na conceituada Preventive Medicine em 2008.
A redução da atividade física no ambiente de trabalho nas últimas décadas tem contribuído para o aumento da gordura corporal. Estratégias para que o balanço energético seja equilibrado são necessárias e entre elas a forma de transporte ativo deve ser estimulada.
A utilização de carros particulares como meio de transporte para o trabalho é a forma dominante na maioria dos países do mundo, principalmente entre os desenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda, muitas pessoas se tornam dependentes dos carros para ir à escola, shopping, mercados e outras áreas. Quem não conhece alguém que para ir à padaria comprar um pãozinho não abre mão de utilizar o carro ou a moto. Muitas vezes o tempo gasto para tirar o veiculo da garagem e encontrar um local para estacionar é muito maior que se o indivíduo fosse a pé. Contudo, pesquisas têm sugerido que em locais onde a utilização de carros, como meio de transporte, é dominante existe maior prevalência de obesidade (CRAIG et al, 2002).
O objetivo deste estudo foi investigar a associação entre o meio de transporte para o trabalho, excesso de peso (IMC >25 <> 30)
Um total de 47.621 pessoas recebeu, via correio, um questionário com perguntas relacionadas ao meio de transporte utilizado e variáveis demográficas. Desses, 16.705 indivíduos foram inclusos no estudo e contatados via telefone.
As variáveis peso e altura foram auto-referido e então o IMC foi calculado. Outras variáveis como idade, país de origem, nível educacional, tipo de transporte e tempo gasto com transporte foram inclusas na pesquisa.
Os resultados indicaram que 0,5% dos homens e 1,8% das mulheres estavam abaixo do peso. Dentro dos valores normais 41,9% dos homens e 61,3% das mulheres se encaixavam nesta faixa. Em relação ao excesso de peso e obesidade entre os homens, os percentuais foram de 46,0% e 11,6%, respectivamente. Já nas mulheres, excesso de peso correspondia a 26,6% e a obesidade a 10,3%.
A pesquisa revelou ainda que 38,8% dos homens gastavam menos de 15 minutos para chegar ao trabalho. Entre as mulheres os valores ficaram em 41,8%. Apenas 18,2% dos homens e 25,9% das mulheres utilizavam a caminhada ou bicicleta como meio de transporte para o trabalho. 10,4% e 16,2% utilizavam o transporte público como meio de transporte entre homens e mulheres, respectivamente. A maioria dos pesquisados utilizavam o carro como meio de transporte para ir para o trabalho todos os dias. Os valores chegaram a 68,3% dos homens e 55,8% das mulheres.
O autor buscou analisar o Odds Ratio para excesso de peso e obesidade de acordo com o meio de transporte. Utilizou-se o carro como sendo o ponto de partida (referência). Para excesso de peso ir caminhando ou de bicicleta para o trabalho identificou de 0,65 (IC 0.58-0.73) para homens e 0,79 (IC 0.66-0.94) para mulheres. Para o transporte público de 0,58 (IC 0.50-0.68) entre os homens e 0.96 (IC 0.85-1.08) para mulheres e outras formas de transporte com 0,85 (IC 0.66-1.10) e 0.98 (IC 0.73-1.32) para homens e mulheres, respectivamente. Com relação à obesidade os valores encontrados entre homens e mulheres foram os seguintes: 0,77 (IC 0.63-0.93) e 0,79 (IC0.66-0.94) para caminhada/bicicleta, 0,56 (IC 0.43-0.74) e 1,09 (IC0.90-1.31) para o transporte público e 0,83 (IC 0.56-1.24) e 1,31(IC0.87-1.99)para outras formas de transporte, respectivamente.
Quando o Odds Ratio foi ajustado pela idade, país de origem, nível educacional e tempo gasto com transporte somente caminhada/bicicleta 0,69 (IC0.60-0.79) e transporte publico 0,72 (IC0.61-0.86) permaneceram estatisticamente significativos, isto para excesso de peso em homens. Quanto à obesidade somente transporte publico, após o ajuste, permaneceu significativo com 0.81 (IC0.51-0.95) também para homens.
Nas mulheres para excesso de peso e obesidade, apenas caminhada/bicicleta foram significativos após ajustado pelas variareis já citadas com 0,80 (IC0.70-0.91) e 0,81 (IC0.66-0.99), respectivamente.
O autor conclui que particularmente caminhada e bicicleta como meio de transporte para o trabalho estão associados negativamente ao excesso de peso e a obesidade.
Portanto, caros amigos e amigas, se você tiver a oportunidade de deslocar-se para o trabalho de forma ativa faça-o, assim sua saúde o agradecerá.

Ref.
Lindstrom, M. Means of transportation to work and overweight and obesity: A population-based study in southern Sweden. Preventive Medicine. 2008;46: 22-28.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SER OBESO PODE CONTRIBUIR PARA O AQUECIMENTO GLOBAL?


Por Prof. Mauricio dos Santos

Hoje em dia parece que esta na moda ser ecologicamente correto. Mas não é só moda. Precisamos tomar conta do nosso planeta para que ele possa nos ajudar a viver melhor. Não devemos jogar lixo nas ruas, devemos evitar desmatamentos e temos que reciclar o lixo. E agora...? MANTER-SE NO PESO IDEAL. Isto mesmo meus amigos (as): ADIPOSIDADE PODE AUMENTAR O AQUECIMENTO GLOBAL.
Será que é possível esta relação? Segundo um estudo publicado no International Journal Obesity sim. Até então sabíamos que ser ativo reduz a emissão de gases poluentes por aumentar o uso de bicicletas e caminhadas como forma de transporte.
Mas, uma pesquisa realizada por Phil Edwards e Ian Roberts associou a adiposidade ao aquecimento global. Eles estimaram a emissão dos gases verdes, aqueles oriundos da produção de alimentos e responsável por 20% dos poluentes com o aumento do IMC. Os resultados encontrados foram que uma população com 40% de obesos requer 19% a mais de alimentos. Se isto acontecer, para transportar estes alimentos a mais serão necessários mais combustíveis para transportá-los. Desta forma, aumenta a emissão de CO2 na atmosfera.
A comparação da emissão de gases para a população com peso normal é de 1.4 Giga toneladas/ano, mas para uma população de obesos passaria a 1.67 Giga toneladas/ano.
Outro exemplo foi citado no artigo. Indivíduos com mais adiposidade requer um automóvel maior e mais potente que pessoas com peso normal. Carros mais potentes consomem mais combustíveis e sendo assim, elevam a emissão de gases por maior consumo.
Portanto meus amigos, se você é realmente preocupado com o meio e é ecologicamente correto, mantenha seu peso ideal.

Edwards P; Roberts I. Population adiposity and climate change. International Journal of Epidemiology. 2009;38:1137-1140.