domingo, 29 de novembro de 2009

Atividade física ou medicamentos?


Por Prof. Mauricio dos Santos

A política pública de saúde tem sido focada em duas perspectivas médicas: a cirúrgica e a medicamentosa 1. Um exemplo claro desta situação foi o estudo realizado SANTRY HP et al (2005)2 que demonstraram a tendência da cirurgia bariátrica nos Estados Unidos. As intervenções passaram de 13.365 em 1998 para 102.743 em 2003. Porém, cabe aqui ressaltar que a população daquele país não aumentou as porcentagens de obesos na mesma proporção.
Em relação à perspectiva medicamentosa, VIEIRA FS (2009)3 mostrou os gastos com medicamentos do Ministério da Saúde que passaram de 5,39% em 2002 para 10,7% em 2007, o que representou em reais ($) um salto de 1,4 bilhões para 4,6 em 2007. Isto representou 3,2 vezes o que foi gasto em 2002. Portanto, fica evidente que a promoção e prevenção da saúde esta em segundo plano, sendo a política curativa a prioridade.
Porém, como podemos interferir nesta política pública para reduzir as intervenções cirúrgicas, gastos com medicamentos e com a saúde pública? A resposta é simples: Ser mais ativo.
Vejam só!!! Em 2001 um estudo de cohorte finlandesa demonstrou que fazer atividade física e melhorar a alimentação foi capaz de reduzir em 58% a incidência de diabetes tipo 2 em quatro anos4. Um ano mais tarde, o Grupo do Programa de Prevenção de Diabetes (em inglês DPP) mostrou ao mundo que mudança no estilo de vida foi mais eficiente do que tomar metformina (medicamento) e placebo para reduzir o diabetes tipo 2 em indivíduos pré dispostos à doença em três anos. As proporções de reduções foram de 58% para o estilo de vida, 38% para o medicamento e 11% para o placebo5. Recentemente este mesmo grupo (DPP) mostrou que após 10 anos de comparações, o grupo mudança no estilo de vida continuou sendo a melhor estratégia comparado com o medicamento ou placebo. Os dados demonstram uma redução de 34% a favor do estilo de vida contra 18% do medicamento quando comparado ao grupo placebo6. Outros dados interessantes foram mostrados por BERTOLDI AD et al (2006)7 que avaliaram o nível de atividade física e compararam o uso de medicamentos. O desfecho mostrou que indivíduos mais ativos consumiam menores quantidades de medicamentos. Estes achados foram corroborados por WILLIAMS PT (2008)8 que encontrou em pessoas com hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia uma relação inversa entre a distância da caminhada e o consumo de medicamentos.
Para finalizar, no último Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, o Prof. Leonardo José da Silva, do CELAFISCS (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul), mostrou sua pesquisa em que avaliou 201 mulheres com idade igual ou superior a 60 anos que participavam do Programa Saúde da Família (PSF) de São Caetano do Sul. Essas mulheres foram divididas de acordo com o nível de atividade física, avaliado pelo IPAQ, em sedentárias ( menos de 10 minutos / semana), insuficientemente ativa ( 10 a 149 minutos / semana) e ativa ( maior ou igual a 150 minutos / semana). Para o consumo de medicamento foi utilizado o cadastro do PSF. O resultado apontou que o maior consumo de medicamentos estava entre as mulheres sedentárias (69,2%), contra 14,4% das mulheres classificadas como ativas. Estas proporções representaram uma diferença de 79,1% entre as ativas e sedentárias9.
Ainda temos um caminho árduo e pedregoso a percorrer para mudarmos os hábitos da população e conscientizar as autoridades sobre a importância da atividade física como meio de promover saúde, mas as pesquisas têm evidenciado a necessidade de mudar nossos hábitos a favor da saúde. Sejamos esperançosos e motivados para mudar o mundo.
Até a próxima..........


Referências

1. MATSUDO VKR. Palestra de Abertura. XXXI Simpósio Internacional de Ciências
do Esporte. CELAFISCS. 2008

2. SANTRY HP et al. Trends in Bariatric Surgical Procedures. JAMA.2005;294(5):1909-1917.

3. VIEIRA FS. Gasto do Ministério da Saúde com Medicamentos: Tendências dos
Programas de 2002 a 2007.

4. TUOMILEHTO J et al. Prevention of Type 2 Diabetes Mellitus by Changes in
Lifestyle Among Subjects with Impaired Glucose Tolerance. New England Journal
Medical. 2001;344(18):1343-1350.

5. DIABETES PREVENTION PROGRAM RESEARCH GROUP.Reduction in the
Incidence of Type 2 Diabetes with Lifestyle Intervention or Metformin. New
England Journal Medical. 2002;346(6):393-403.

6. DIABETES PREVENTION PROGRAM RESEARCH. 10 Year Follow-Up of
Diabetes Incidence and Weight Loss in the Diabetes Prevention Program
Outcomes Study. The Lancet. 2009; 6736(9):1677-1686.

7. BERTOLDI AD et al. Physical activity and medicine use: evidence from a
population-based study. BMC Public Health. 2006;6:244.

8. WILLIAMS PT. Reduced Diabetes, Hypertensive, and Cholesterol Medication Use
with Walking. Medicine Science Sports Medicine.2008;40(3):433-443.

9. SILVA LJ et al. Caminhada no tempo de lazer e Consumo de Medicamentos em
Mulheres Usuárias do Programa Saúde da Família. Congresso Brasileiro de
Atividade Física e Saúde. 2009.