domingo, 18 de abril de 2010

Exercício sem perda de peso não reduz Proteína C Reativa.


Por Mauricio dos Santos
Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
Programa Agita São Paulo
Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo


As doenças cardiovasculares ainda continuam sendo a primeira causa de morte no mundo, representando 1/3 de todos os óbitos. Os fatores de risco tradicionais já estão bem entendidos pela ciência. Entretanto, os novos fatores de risco para doenças cardiovasculares têm recebido grande atenção da comunidade científica. Um desses fatores contemporâneo é a Protéica C Reativa (PCR) pelo seu papel inflamatório nos vasos sanguíneos.
Alguns estudos têm relatado o efeito positivo do exercício físico na redução da PCR, porém, a maioria deles não foi desenhado para ter como desfecho primário esta relação.
Uma pesquisa recente publicada no Medicine & Science in Sports & Exercise, deste mês, demonstrou uma relação mais interessante sobre o assunto. Thimothy S. Church e colaboradores de três centros de pesquisa realizaram um estudo prospectivo para testar a hipótese da relação entre o exercício físico e a PCR.
A partir do INFLAME Study (desenhado para compreender melhor a relação entre exercício físico e indicadores de inflamação) os autores contataram 3.569 indivíduos por telefone dos quais, ao final de aplicar os critérios de inclusão e exclusão, 65 indivíduos foram randomizados para o grupo controle e 64 no grupo exercício.
A população do estudo tinha, em média, 49,7 anos, IMC de 31,8 kg.m-1 e média de passos de 5.792. No baseline, a concentração da PCR não apresentava diferença significativa entre os grupos. O grupo experimental realizou de três a cinco sessões por semana tendo um gasto calórico de 16 Kcal.kg-1.(1.500 Kcal.sem.-1 por participante) A freqüência cardíaca média durante o período de treinamento foi de 75,3% e os minutos de 204.
Não houve mudança na ingestão calórica do período pré para o pós, tanto no grupo experimental quanto no controle. O número de passos, avaliado por um pedômetro, também não representou mudança significativo entre os dois momentos.
Após quatro meses de intervenção a PCR não apresentou diferenças significativas, tanto no grupo controle como no grupo exercício, o que correspondeu uma redução de 0,4 mg.L-1 para o controle e de 0,5 mg.L-1 para o grupo exercício. A redução do peso corporal foi estimada para que os participantes perdessem 2,4 kg durante a intervenção (1kg = 7.700 Kcal). Porém, a perda foi de 0,7 kg, o que correspondeu a 29% da expectativa proposta.
Mudanças no peso e na massa gorda foram correlacionadas (Spearman rho) com redução da PCR. Desta forma, os autores realizaram uma nova investigação entre os indivíduos do grupo experimental. Dividiram o grupo exercício em tercis de kg e gordura corporal. Para mudança de peso (kg) e gordura corporal (DEXA) os seguintes tercis foram identificados: 1.1, -0.9 e -2,9 kg. A partir dessa divisão foi observada uma redução significativa da PCR no tercil com maior mudança, tanto para peso como gordura corporal. Este valor de significância foi da ordem de p<0,05 para todos os tercis e grupo controle.
Com estes resultados os autores concluem que o exercício per si não foi eficiente para alterar os valores da PCR. Entretanto, quando o exercício foi seguido da redução do peso corporal a mudança da PCR é observada.
Este foi o primeiro estudo prospectivo e randomizado que avaliou a relação direta entre exercícios e PCR.

Referência:
Church TS; Earnest CP; Thompson AM; Priest EL; Rodarte RQ; Saunder T; Ross R. Exercise Without Weight Loss Does Not Reduce C-Reactive Protein: The INFLAME Study.Med.Sci.Sports Exerc. 2010;42(4):708-716.

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