
Por Mauricio dos Santos
Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
Programa Agita São Paulo
Quem já passou por uma crise de dor provocada por este problema diz que é uma das piores que já observou. Na Europa cerca de 10%-15% da população sofre deste problema de forma assintomática e a cada ano 2% desenvolve esta condição. No Brasil dados específicos ainda são escassos. Três mecanismos estão implicados no desenvolvimento do cálculo biliar, sendo: supersaturação da bile com o colesterol, formação de microcristais e estasi da glândula biliar.
Alguns estudos tem demonstrado a relação entre o benefício da atividade física em reduzir os casos de cálculos biliares a partir do aumento do HDLc pois, esta molécula tem uma relação inversa com esta condição. O HDLc é um precursor do ácido da bile, cujo é um importante componente para reduzir a litogecidade da bile. A atividade física tem um efeito pró-cinético no intestino incluindo aumento dos níveis da colecistocina que estimula a contratilidade da vesícula biliar e previne a estasi da bile.
Entretanto, poucos estudos prospectivos procuraram observar esta relação. Paul J.R. Banim e colaboradores pesquisaram e publicaram no European Journal of Gastroenterology & Hepatology em 2010, a relação entre o nível de atividade física e a incidência de cálculos biliares.
Para tanto, 25.639 voluntários com idade entre 40-74 anos, recrutados do European Prospective Investigation of Câncer (EPIC) responderam um questionário (auto-aplicavel) sobre o nível de atividade física. De acordo com as resposta foram divididos em quatro grupos (Inativos, Moderadamente Inativos, Moderadamente Ativos e Ativos).
Para a identificação dos casos, em junho de 2007 após 14 anos de acompanhamento, o histórico dos arquivos da EPIC foi utilizado. Esses dados estavam de acordo os dos centros de saúde de Norfolk e também com o Código Internacional de Doenças (CID-10). Todos os casos identificados foram posteriormente analisados por médicos para confirmar o diagnóstico.
Os resultados foram analisados com cinco e quatorze anos de acompanhamento. Cento e trinta e cinco indivíduos desenvolveram cálculos biliares nos primeiros cinco anos, sendo 69,9% em mulheres. Quando analisados pela divisão do nível de atividade física, os mais acometidos encontravam-se no grupo de inativos com 98 casos, o que correspondia a 1,36%. Noventa e nove (1,44%) indivíduos do grupo moderadamente inativos, moderadamente ativos com 60 casos (1,10%) e 33 casos (0,74%) entre os ativos. Ao comparar a diferença entre inativos e ativos, a incidência foi três vezes maior entre o primeiro grupo. O Hazard Ratio em cinco anos foi de 0.30 (IC 0,14-0.64) e em 14 anos de 0,70 (IC 0.49-1.01) entre o grupo mais ativo e o menos ativo. Em outras palavras, a atividade física protege em 70% em cinco anos e em 30% em quatorze anos a incidência de cálculo biliar.
Referência.
Nanim PJR et al. Physical activity reduces the risk of symptomatic gallstones: a prospective cohort study. European Journal of Gastroenterology & Hepatology. 2010;00:000-000.