terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tempo de TV e Mortalidade


Por Mauricio dos Santos
Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
Programa Agita São Paulo

Em 2009, um time de peso constituído por Peter T. Kartzmarzyk, Timothy S. Church, Cora L. Craig e Claude Bouchard, publicaram um artigo na Medicine Science Sport Medicine e considerado por muitos como um marco na saúde pública. Segundo os autores, quanto maior o tempo sentado maiores as chances de mortalidade por todas as causas e doenças cardiovasculares. Entretanto, não houve associação entre tempo sentado e mortalidade por câncer. Incrivelmente, nem os indivíduos mais ativos ficaram livres desta associação. Os piores resultados foram encontrados entre os obesos.
O comportamento sedentário é um dos grandes desafios a ser vencido na era contemporânea, isto porque, o sedentarismo está associado à mortalidade prematura por todas as causas. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde publicou um report dos principais fatores que contribuem para a mortalidade global. A inatividade física foi responsável por 5,5% das mortes no mundo, sendo a quarta maior causa de mortalidade superando a obesidade e o excesso de peso.
Apenas um estudo encontrou relação entre o tempo sentado no ambiente de trabalho e mortalidade. Neste caso, o câncer de próstata entre 45.887 homens com idade com 45 a 79 anos foi mais incidente entre os que permaneciam a maior parte do tempo sentado (Orsini N et al, 2009).
Para a surpresa de muitos, um estudo publicado na conceituada Circulation, de janeiro, veio mostrar ao mundo científico que o tempo que uma pessoa passa assistindo à televisão é um preditor de mortalidade. Estudos anteriores haviam encontrado associação entre tempo de tv e obesidade e excesso de peso, principalmente nos mais jovens. Matsudo SMM (1997), por exemplo, concluiu que mais de quatro horas de tv por dia reduziu força de membros inferiores, velocidade, potência aeróbica e aumentou adiposidade em meninos e meninas de Ilha Bela. Dartagnan Pinto Guedes em 2001 encontrou que meninos e meninas permaneciam na frente da tv, computador e vídeo game em média de 29 e 24 horas semanais, respectivamente. Porém, nas atividades de lazer e esportes os meninos realizavam 3,5 horas semanais contra 0,49 das meninas.
Este novo estudo, conduzido por Dunstan DW e colaboradores, é o primeiro a demonstrar a associação entre tempo de tv e mortalidade. A amostra foi composta por 8.800 adultos com idade igual ou superior a 25 anos de idade pertencentes ao Australian Diabetes, Obesity and Lifestyle Study (AusDiab). Durante o período de seguimento (6,6 anos) 284 mortes foram identificadas, sendo 87 (31%) por doenças cardiovasculares, 125 (44%) por câncer e 72 (25%) de não cardiovascular e nem câncer. O tempo de tv foi categorizado em três grupos: < 2 h/dia, de ≥ 2 a < 4 h/dia e ≥ a 4 h/dia. Após ajustar os resultados por idade, sexo, circunferência da cintura e exercício, o tempo de tv foi associado a mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares. Nesta pesquisa, mortalidade por câncer também não obteve relação.
Outras informações mostraram um interessante desfecho. A cada uma hora de tv a mais aumentou em 11% a mortalidade por todas as causas e de 18% para mortalidade cardiovascular. Quando o grupo que ficou mais tempo assistindo televisão (≥ 4 h/dia) foi comparado com o grupo que ficou menos tempo na frente da tv (< 2 h/dia) o risco de mortalidade por todas as causas foi de 46% e por doenças cardiovasculares de 80% maior.
Estamos de frente de um novo fator de risco para mortalidade, que há algum tempo vem sendo associado à obesidade, mas que agora ganha força com as novas pesquisas epidemiológicas.
Essas evidências científicas nos permitem concluir que não só a população deve ser mais ativa, mas também reduzir o tempo sentado e o tempo assistindo televisão, a fim de reduzir os riscos de morbidade e mortalidade.

Fonte de Pesquisa
Dustan DW; Barr ELM; Healy GN; Salmon J; Shaw JE; Balkau B; Magliano DJ; Cameron AJ; Zimmet PZ; Owen N. Television viewing time and mortality. The Australian Diabetes, Obesity and Lifestyle Study (AusDiab). Circulation. 2010; 121:384-391.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dia Mundial da Atividade Física


AGITA MUNDO – 6 de abril - DIA MUNDIAL DA ATIVIDADE FÍSICA

Tema 2010: Cidades Ativas: Vida Saudável

O QUE É?

O Dia Mundial da Atividade Física – Agita Mundo proposto pelo Programa Agita São Paulo, foi criado pela Organização Mundial da Saúde - OMS, com o intuito a promover uma grande mobilização mundial para a reflexão e a realização de ações a favor da adoção de estilo de vida mais ativo, buscando uma melhor condição de saúde, bem-estar e qualidade de vida das populações em todo o mundo. Desde 2005 os organizadores do evento optaram por eleger um tema central, que direcionasse o foco das discussões, e para o ano de 2010 o tema escolhido foi: “Cidades Ativas: Vida Saudável”, o objetivo dos organizadores com a proposta deste tema é levar as pessoas a refletirem sobre o seu ambiente externo e de como ele interfere na prática da atividade física no que se refere à estrutura física e clima social para a adoção de um estilo de vida mais ativo e saudável.



COMO NASCEU ?

A partir do sucesso e repercussão mundial do Programa Agita São Paulo lançado em 1996, em 2002 a OMS decidi celebrar o DIA MUNDIAL DA SAÚDE com o tema ATIVIDADE FÍSICA - “Move For Health”, escolhendo pela primeira vez na história desta data uma cidade da América do Sul, São Paulo como sede das celebrações deste evento, em reconhecimento ao sucesso do PROGRAMA AGITA SÃO PAULO. Neste ano, portanto São Paulo realizou uma grande festa para celebrar a data com a presença da Diretora Geral da Organização Mundial da Saúde, nesta data também o então governador de São Paulo Geraldo Alckmin assina o decreto estadual determinando o dia 6 de abril como Dia Estadual da Atividade Física. A partir deste ano a OMS decreta que no dia 6 de Abril passe a ser celebrado como DIA MUNDIAL DA ATIVIDADE FÍSICA. Desde então a data vem sendo comemorada anualmente nos diversos países membros da OMS que integram a Rede Mundial da Atividade Física, Agita Mundo Network instituição criada para difundir o conceito de estilo de vida ativo, bem como capacitar multiplicadores e organizar eventos por todo o mundo.



QUEM ORGANIZA?

Sob a coordenação do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS e da Secretaria de Estado da Saúde o evento AGITA MUNDO - DIA MUNDIAL DA ATIVIDADE FÍSICA, esta sendo organizando a partir da mobilização dos mais de 350 parceiros do Programa Agita São Paulo, pela Rede Agita Brasil em diversas cidades por todo o território nacional, desde de 2008 o Ministério da Saúde também mobiliza sua rede para celebrar a data, a RAFA - Rede de Atividade Física das Américas através dos programas regionais das cidades nos diferentes países da América Latina e dos mais de 40 países nos 5 diferentes continentes que formam a Rede Agita Mundo.

O principal evento da data será a Caminhada Agita Mundo no dia 11 de abril com a previsão da participação de aproximadamente mais de 20 mil pessoas, que partirão às 9h da AV. Paulista atrás do MASP pelas ruas dos jardins até o estacionamento da Assembléia Legislativa no Ibirapuera. Dando continuidade as comemorações do Dia Mundial da Atividade Física, na terça feira dia 6 de abril acontece a VII Mostra de Boas Práticas na Associação Paulista de Medicina de São Paulo, na Av. Brig. Luis Antonio 278, à partir das 8h da manhã . Na ocasião serão apresentadas as experiências bem sucedidas do ano de 2009 por Instituições Públicas, Departamentos Regionais da Saúde do estado, Instituições Privadas e Instituições da Sociedade Civil Organizada ; com o intuito de demonstrar brevemente a dimensão que o programa Agita São Paulo alcançou nos seus 13 anos de atividades, bem como apresentar as intervenções mais exitosas nesta área da promoção da atividade física e da saúde.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Homem em sua “velocidade máxima”.


Por Mauricio dos Santos
Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
Programa Agita São Paulo



Há pouco tempo nos deparamos com um fenômeno da velocidade: Usain Bolt com sua marca de 9 segundos e 58 centésimos. Ele não só surpreendeu os especialistas e treinadores, mas como Mark W. Denny que em 2008, em um artigo que mostrava a tendência de velocidade do cachorro, do cavalo e do homem, concluiu que o record mundial dos 100 metros rasos chegaria no máximo à marca de 9 segundos e 48 centesimos. Como o mundo todo viu a forma que Bolt passou pela faixa final não será difícil chegar nesta marca.
Agora uma nova pesquisa trás a tona o “potencial” de velocidade que um humano pode correr. Acreditem, entre 50 km/h e 60 km/h. A pesquisa publicada no Journal of Applied Physiology de janeiro de 2010 utilizou modelos matemáticos para chegar a estes números. De forma geral, os pesquisadores obtiveram a força aplicada em um salto com uma das pernas em uma esteira que permitia quantificar a força aplicada no piso e comparou com a força aplicada da perna durante uma corrida na mesma esteira.
Segundo o autor, Peter G. Weyand, do Laboratório de Performance Locomotora do Departamento de Fisiologia Aplicada da Southern Methodist University em Dallas, nos Estados Unidos, a força aplicada no salto é mais de um terço maior à aplicada durante a corrida. A explicação ainda leva em consideração o tempo de contato com o solo que permitiria uma maior aplicação de força e isto não ocorre com a corrida. Se o homem conseguisse aplicar esta força nas passadas das corridas poderia atingir uma velocidade maior. O próprio Weyand PG (2000) já havia demonstrado em um estudo anterior que as maiores velocidades máximas são obtidas pelos atletas capazes de produzir maiores forças de reação ao solo. Portanto, como o Prof. Nélio Alfano Moura mostrou e disse no último Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, do Celafiscs: “O melhor velocista não é o mais “rápido”, e sim o mais forte!”. Não é a toa que ele é o único técnico bicampeão olímpico em uma mesma Olimpíada.
Os autores ainda fazem uma série de ajustes matemáticos e comparações com outros animais. Vale a pena ler. É um artigo um pouco extenso, mas rico de informações biomecânicas.
Agora meus amigos e amigas, já podem pensar em ir para o povoado de Kampung Komodo, que fica na Indonésia na costa oriental da Ilha, ou simplesmente Ilha de Cômodo, uma das mais de 13.677 ilhas do arquipélago. Lá podemos disputar uma corridinha com o Dragão de Cômodo (científico: Varanus Komodencis, descoberto em 1910), a maior espécie de lagarto que mede cerca de 3 metros de comprimento, pesa cerca de 150 a 230 kilos pode comer crianças e tem relatos que devorou adulto, têm na saliva bactérias letais e alcança uma velocidade até de 20 km/h. O problema é que ele mantém esta velocidade por até 4 horas. Aí precisaremos de outros estudos para ver quanto tempo poderíamos resistir à velocidade proposta pelos autores deste estudo.

Referência
Weyand PG; Sandell RF; Prime DN.L; Bundle MW. The biological limits to running speed are imposed from the ground up. Journa Applied Physiology.2010; doi:10.1152.


Conheça o Dragão de Cômodo
http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/videos/dragao_komodo.swf

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Percepção de Segurança do Ambiente e Atividade Física



Por Mauricio dos Santos
Celafiscs – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul.
Programa Agita São Paulo


Entender como a vizinhança percebe o ambiente e o que este proporciona pra ser mais ativo ou não vem ganhando espaço em vários periódicos científicos.
A pergunta que não quer calar: porque algumas pessoas são mais ativas do que outras? A resposta pode estar associada à percepção que esta pessoa tem em relação ao ambiente em que vive. Questões ligadas ao ambiente construído e social podem fazer a diferença. Não obstante, a segurança local e a criminalidade podem interferir neste contexto.
Para ajudar melhor compreender esta situação, Gary G. Bennett e colaboradores publicaram uma pesquisa em que relacionaram a percepção de segurança e o nível de atividade física de indivíduos que moravam na periferia.
A amostra foi composta por 1.180 indivíduos, maiores de 18 anos, que moravam em 12 áreas da região metropolitana de Boston. O nível de atividade física foi avaliado por meio de pedômetro por cinco dias consecutivos, além de obterem a percepção de segurança do ambiente para praticarem atividades físicas na vizinhança.
Quando analisado as informações, os autores observaram que a maioria reportou sentir-se seguro em caminhar durante o dia. Entretanto, somente 36% da amostra reportaram sentir-se seguro para praticar atividades físicas durante a noite.
Os autores não encontraram associação entre a percepção de segurança e o nível de atividade física entre os homens e mulheres. No período noturno também não ocorreu associação para homens. Entre as mulheres que reportaram maior insegurança de praticar atividades físicas durante a noite os números de passos foram menores estatisticamente (p=0,01) quando comparada com as mulheres que reportaram segurança, sendo 4.302 versus 5.178 passos, respectivamente.
A conclusão: residir em ambientes que não ofereçam segurança durante a noite pode ser considerado como uma barreira para pratica de atividade física, especialmente entre as mulheres que vivem em localidades periféricas.
Estes achados demonstram que as políticas de promoção da saúde têm um complexo caminho a percorrer, já que além do ambiente construído, os cuidados com a segurança pública devem ser levados em consideração para aproveitar ao máximo estas áreas e aumentarem os níveis de atividade física da população.

Ref.:
Bennett GG; McNeill LH; Wolin KY; Duncan DT; Puleo E; Emmons KM. Safe To Walk? Neighborhood Safety and Physical Activity Among Public Housing Residents. PLoS Medicine. 2007; 4(10):1599-1607.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estágio no Celafiscs


Convido a todos para que venham conhecer o Celafiscs e participar do grupo de estagiários de 2010. O Celafiscs com mais de 35 anos de existência tem se destacado tanto no âmbito nacional como internacional na área de ciências do esporte e da atividade física. Além disso, contribuiu na formação de grandes nomes da área no cenário nacional.

Venha fazer parte da Elite Intelectual das Ciências do Esporte no Brasil, abaixo encontrará dez (10) motivos para você vir fazer estágio no CELAFISCS. O Estagio de Formação Básica de Pesquisador em Ciências do Esporte te dará oportunidade em apenas 10 meses de:


1. Participações em dois dos maiores Projetos Longitudinais da América Latina: *Projeto Longitudinal de Crescimento e Desenvolvimento de Ilha Bela projeto existente há 32 Anos
*Projeto Longitudinal de Envelhecimento de São Caetano do Sul de 12 anos
Participação com publicação e apresentação de trabalho no maior evento cientifica internacional do território brasileiro Simpósio Internacional de Ciências do Esporte.

2. Noções teóricas e praticas de análise estatística de dados através de pacotes estatísticos: Epinfo, SPSS 15.09, entre outros.

3. Publicação de Artigo Cientifico original como conclusão do estágio em Revista Científica Indexada.


4. A possibilidade de organização técnica e cientifica de Cursos e Eventos Científicos, tendo a especial condição de participar dos mesmos.


5. Possibilidade de participação na Reunião anual do AMERICAN COLLEG OF SPORT MEDICINE, congresso desta instituição, considerado no meio acadêmico internacional um dos maiores encontros científicos da medicina esportiva no mundo.


6. Participação em Mega Eventos em Comemoração ao Dia Mundial de Atividade Física, numa privilegiada condição de membro da equipe organizadora do evento.

7. Atualização Cientifica e aquisição de conceitos através de Estudos Científicos Clássicos e Artigos de recém publicados nos mais importantes periódicos científicos da área no âmbito internacional.
8. Orientação de procedimentos científicos semanais com temas atuais como: *Busca de artigos em base de dados internacionais

9. Metodologia da Pesquisa incluindo procedimentos para garantir os critérios de cientificidade de uma pesquisa: validade, objetividade, reprodutibilidade.

10. Como escrever um bom artigo Introdução – Objetivo – Materiais e Métodos – Resultados – Discussão – Conclusão e citações e referências.


Tudo isso a 100 metros da Estação de Trem de São Caetano do Sul pela Linha 10 Rubi da CPTM 12 mim da estação Luz ou 10 min da Estação Brás descendo do Lado esquerdo sentido Rua Perrelas atravessar Rua 24 horas esquerda dentro da Unidade de Saúde Samuel Klein, Rua Heloisa Pamplona 269 sala 31 SCS.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Recursos Ambientais para Atividade Física e Incidência de Diabetes Tipo 2


Por Mauricio dos Santos

Reconhecidamente ambientes saudáveis levam a população ao redor desta área a terem hábitos saudáveis. Estudos científicos têm mostrado esta relação com a prática de atividade física, por exemplo. Não obstante, indivíduos que apresentam estilo de vida ativo tem menor chance de morte prematura por todas as causas quando comparados com indivíduos sedentários. Além disso, pessoas engajadas em práticas de atividade física podem retardar em até 14 anos o surgimento do Diabetes Tipo 2.
Poucos estudos longitudinais tem focado a relação de um ambiente favorável à prática de atividade física e alimentação saudável com a incidência do Diabetes Tipo 2. Na tentativa de preencher esta lacuna, pesquisadores do Estudo Multi-étnico de Aterosclerose conduziram um estudo para observar esta relação. A hipótese levantada foi que a presença de um ambiente favorável para atividade física e alimentação saudável apresentaria menor risco de diabetes tipo 2.
Para esta pesquisa foi investigado 2.285 participantes com idade entre 45 a 84 anos, que foram acompanhados por 4.8 anos. Durante este período 233 novos casos de Diabetes surgiram que foi definida como glicemia de jejum maior que 126 mg/dL e tomando algum medicamento hipoglicêmico.
Com relação às características do ambiente para a prática da atividade física foi perguntado se na vizinhança os moradores tinham local para prática de esportes, clubes, se era agradável caminhar pelo bairro, se vê pessoas caminhando, jogando, pedalando e outras atividades pelo bairro. Para a relação do ambiente com alimentação saudável foi investigado se na vizinhança existe fácil acesso às frutas e verduras, produtos com baixo teor de gordura e quanto à qualidade destes alimentos.
O desfecho da pesquisa foi ao encontro da hipótese formulada, isto é, em ambientes com melhores recursos para prática de atividade física e boa alimentação a incidência de Diabetes Tipo 2 foi 38% menor que em vizinhança sem estas características. Para os mais atentos aos resultados estatísticos, o hazard ratio correspondeu a 0,62 (IC 0.43-0.88). Esses valores foram ajustados pela idade, sexo, histórico familiar de diabetes, raça, etnia, renda, nível educacional, álcool e tabagismo. Os valores continuaram significativos quando foram adicionados outros fatores que poderiam interferir nos resultados como: fatores da dieta, nível de atividade física e IMC.
Portanto, buscar e deixar um ambiente saudável não vale apenas para combatermos o aquecimento global serve também, para reduzirmos a incidência desta doença que a cada dia vem ganhando espaço no ranking das campeãs, infelizmente.

Fonte de pesquisa:
Amy H. Auchincloss, Ana V. Diez Roux, Mahasin S. Mujahad, Mingwu Shen, Alain G. Bertoni e Mercedes R. Carnethon. Neighborhood Resources for Physical Activity and Healthy Foods and Incidence of Type 2 Diabetes Mellitus. Archives internal Medicine. 2009; 169(18):1698-1704.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Características do ambiente e caminhada.


Por Prof. Mauricio dos Santos

Residir em áreas próximas a parques e áreas verdes tem sido associado com um estilo de vida ativo do que onde estas características não existem. Nos Estados Unidos o New Urbanism Smart Scorecard (modelo de arquitetura urbana) foi criado para dar sustentabilidade às comunidades, reduzir a expansão indiscriminada, reduzir a destruição de áreas verdes e também para permitir que a caminhada faça parte da rotina dos moradores.
De acordo com alguns critérios estipulados pelos criadores deste design, as pessoas tendem a caminhar mais dependendo de alguns itens, por exemplo, densidade de moradias, uso misto da área, disposição das ruas e tamanho dos quarteirões.
As características do local são classificadas em excelente, preferido, aceitável, mínimo ou não se aplica para várias comparações, entre elas o uso da caminhada na vinhança.
Utilizando este modelo de ambiente construído, Rob Bôer e colaboradores investigaram o padrão de caminhada em dez áreas metropolitanas dos Estados Unidos de acordo com a arquitetura ambiente. As cidades investigadas foram: Boston, Chicago, Dallas, Detroit, Houston, Los Angeles, New York, Philadelphia, San Francisco e Washington.
Além das quatro características do New Urbanism Smart Scorecard citada acima, foram incluídas mais duas que não faziam parte deste modelo, sendo a média de idade da vizinhança e a disponibilidade de estacionamentos nas ruas.
As informações foram obtidas da Pesquisa Nacional de Transporte Pessoal de 1995, que incluiu 42.033 residências dos Estados Unidos. As 10 áreas metropolitanas foram elegíveis de acordo com o Censo de 2000.
Os resultados indicaram que a caminhada associava-se com quarteirões que mantinham entre 600 a 804 passos, com Odds Ratio de 1,26 (IC 1.04-1.52), porém este resultado não esta de acordo com o New Urbanism Smart Scorecard pois, este modelo sinaliza que a caminhada é mais utilizada na vizinhança em quarteirões com menos de 600 passos. Com relação ao número de comércio na vizinhança, os autores identificaram que 4 tipos diferentes de comércio quando comparado a 3 tipos estimularia a caminhada OR 1,24 (IC 1.11-1.39), mais do que este número não houve associado com aumento da caminhada. Intersecção entre quatro vias também indicou maior vantagem para caminhada. Em áreas com menor percentual das intersecções, entre 25% a 49% da área o OR aumentou a utilização da caminhada em 36% quando comparado ao menor percentual, o que correspondia a 0 a 24% a área com intersecções. O maior valor encontrado para esta característica foi na comparação entre 25% a 49% e 50% a 74%. Esta comparação resultou em OR de 1,38 (IC1.09-1.75) a favor da faixa de maior percentual.
Os autores concluíram que maior diversidade de área comercial e maior percentual de intersecção foi associada a mais caminhada. Além disso, alguns critérios, mas não todos, do New Urbanism Smart Scorecard podem associar-se a maior utilização da caminhada.


Referências
New Urbanism Smart Scorecard. www.cnu.org/cnu_reports/Scorecard_exp.pdf.

Boer R; Zheng Z; Overton A; Ridgeway GK; Cohen DA. Neighborhood design and walking trips in ten U.S. metropolitan areas. Am.J.Prev.Med. 2007;32(4):298-304.